GALHOS SECOS - JÓ 14
Sabe-se que o piedoso homem chamado Jó, encontrava-se em um
terrível dilema entre a tradição e a consciência. Havia um clamor que surgia
das suas entranhas que rogava pela misericórdia de Deus, para que Ele
considerasse a brevidade e a miséria da vida humana.
Diante do sofrimento que lhe era imposto, pelas
circunstâncias em que se encontrava, Jó mostrava-se desgostoso da vida e
cônscio de que os anos do homem eram reduzidos sobre a face da terra. Mesmo
assim, ele transmitia o desejo impulsivo da antecipação de sua descida para a
sepultura, na esperança de permanecer escondido da presença de Deus, até que a
sua ira fosse aplacada.
Tradicionalmente, na época e inclusive nos dias atuais,
prevalecia a ideologia de que todo o mal que sobrevinha ao homem, era apenas
resultado de suas práticas pecaminosas. Assim sendo, Jó encontrava-se em
conflito, pois sua consciência não lhe acusava diante daquele cenário, muito
pelo contrário, sua indignação que provinha da crença na “lei da semeadura”,
era tão acentuada, que ele desejava a morte ao permanecer naquela situação.
Considerando esta crise sapiencial, onde não encontrava-se
uma explicação convincente para o sofrimento do justo, Jó observou um ícone da
criação divina, e utilizou-o como amparo para sua permanente autocomiseração.
Olhando para “os galhos secos de uma árvore qualquer”, ele considerou várias
hipóteses que poderiam levar aquela árvore a secar-se. Mesmo cortada,
envelhecidas as suas raízes ou morrendo o seu tronco no pó, ainda restava
esperança para ela, pois apenas ao cheiro das águas os seus brotos e as suas
folhas se renovavam.
Jó equiparou sua vida, julgando-se inferior e de menos
importância que uma árvore. Supôs que o cuidado e o amparo que Deus reserva
para uma planta era superior ao zelo pela vida do homem. Se de um lado ele
tinha um ser, indubitavelmente criado pelas mãos de Deus e entregue a mercê do
desespero e da inquietação, do outro lado, encontrava-se um vegetal revestido
de folhas que é utilizado para subsistência humana, mas que ao constatar-se a
sua queda, seu fracasso, sua sequidão resultante do corte de seu tronco, a
manifestação suave do cheiro das águas ou da brisa e do orvalho, eram
suficientes para tornar a traze-lo a vida. Contudo o homem que uma vez descesse
a sepultura, subentendia-se que a sua esperança descia juntamente com ele, até
que a voz de Deus voltasse a lhe chamar pelo nome então se levantaria e estaria
novamente na presença do Senhor.
Postado por Pb. Saule Luiz P. Goedert
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