sábado, 12 de novembro de 2016

                                                                                                     

                                                       O Deus Desconhecido


(Atos 17:16-31) 
                     Paulo estava em sua 2ª viagem missionária. Já havia passado por várias cidades, inclusive Tessalônica, uma cidade importante, que sob o domínio romano fora a capital de um dos quatro distritos da Macedônia. Seguiu para Beréia, situada na Baixa Macedônia, distante 80 km de Tessalônica. O contexto imediato relata Paulo saindo de Beréia, pois ali pregou o evangelho e encontrou seguidores chamando-os de “nobres” visto que recebiam a Palavra com avidez, com desejo ardente de aprender e corriam a verificar na Torah, a verdade de toda doutrina ensinada pelos que por lá passavam. Mas os judeus de Tessalônica para lá se dirigiram contradizendo o que Paulo havia ensinado, provocando uma grande confusão mental e local nos bereianos.
                             Em Atenas, cidade líder nas artes e filosofia, enquanto aguardava a chegada dos dois companheiros de viagem, Paulo fica profundamente indignado ao ver que a cidade estava cheia de ídolos. Por isso, discutia a verdade sobre a adoração a Deus e a idolatria, na sinagoga (com judeus e com gregos tementes a Deus) e na praça principal, todos os dias, com aqueles que por ali se encontravam. Alguns filósofos epicureus (seguidores de Epicuro que viveu entre 341 e 270 a.C. e criou a filosofia ética que faz do prazer o ideal da vida. O maior prazer seria a paz, ausência de dores, paixões e temores) e estóicos (seguidores de Zeno, que viveu entre 340 e 265 a.C., que criou o Estoicismo, uma filosofia onde a vida ideal se conformava com a natureza, da qual a maior expressão era a razão) que eram também panteístas (acreditavam que tudo é Deus e Deus é tudo) começaram a discutir com ele. Alguns o viam como um tagarela (alguém que propaga idéias de pouca importância e mal digeridas) e outros diziam: ”Parece que ele está anunciando deuses estrangeiros”, pois ao ouvirem sobre “Jesus” e “Ressurreição” (no grego é “anastasis”, figura feminina) pensaram que seria um casal de deuses. Então convidaram Paulo para uma reunião do Areópago (um local estabelecido por Sólon, outro filósofo, que viveu entre 640 e 558 a.C.) onde os areopagistas sentavam-se como juízes, ao ar livre, em bancos de pedra, escavados na rocha e ali controlavam a moralidade e a religião da cidade. Debatiam sobre política e tudo que era interessante, sábio e contemporâneo.
                             Andando pela cidade, Paulo viu infinitos altares que eram objetos de culto dos atenienses e dentre eles encontrou um altar “Ao Deus Desconhecido”. Os atenienses acreditavam em tantos deuses que acabaram gerando o medo de ofender um deus por ignorância (poderia haver um deus mais sábio, mais forte, mais poderoso que não conheciam e que não estava sendo adorado, podendo irar-se contra eles). Pausânio (historiador) afirmou que Atenas tinha mais imagens que o resto da Grécia (estima-se que tinha mais de 30.000). Antes de falar desse Deus Desconhecido, Paulo viu ali deuses já conhecidos. A Bíblia cita muitos deles (mesopotâmicos, egípcios, cananitas, gregos, romanos,...) que mudando-se de cultura e de império, eram o mesmo deus. Exemplos: Júpiter (deus romano) é o mesmo Zeus (deus grego), conhecidos como “pai dos deuses menores” e o deus dos heróis. Diana (deusa romana) é a mesma Ártemis (deusa grega) conhecida como deusa da lua, da caça, dos animais, do comércio. Os atenienses criam numa essência divina impessoal e Paulo não identificou o Deus real com essa divindade e passa a oferecer-lhes o conhecimento do Deus verdadeiro, pronunciando o seu mais célebre discurso, anunciando a grandeza, a soberania, a missão e a salvação de Deus para a humanidade.
                              Atualmente muitas pessoas têm agido como os atenienses e vemos um deus para cada gosto, para cada tipo. Chegam aos lares via internet, TV, como um deus “personal trainer”. Ao ouvirem algo sobre Deus, não indagam como faziam os bereianos: Quem disse isto? Quando? Por quê? Como? Para quem? Há tanta religiosidade, tantos deuses que as pessoas não sentem necessidade de pesquisar, de pensar, de analisar. Olhando para o Deus da Bíblia e para a fala no mundo atual, vemos muitos “altares” e altar é o coração. Há coração para todo tipo de deus e ali é oferecido o tempo, a mente, a vida de cada indivíduo. Mudam-se os temas, os nomes, as culturas, a fala de cada pessoa e nos parece que o verdadeiro Deus vai tornando-se cada vez mais desconhecido. A cultura popular, bem como a religiosa, ou as filosofias de vida, vão “engolindo” de tal forma a verdadeira revelação de Deus que até já aceitamos, mesmo que veladamente, o fato (não importa se o chamam de Deus, o guia, o anjo de luz, o cara lá de cima, o salvador do mundo...). Cada qual tem o seu deus e não discutimos Deus (veladamente há uma proposta – “você aceita o meu Deus e eu aceito o seu”). Também não é proposta deste estudo discutir ou argumentar contra a crença das pessoas.
                            Então Paulo dirige-se aos atenienses dizendo-lhes: “Ora, o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, é o que lhes anuncio” (v.23b). Há todo tipo de deus (deus que não é Deus): da floresta, do vento, da água, da colheita, da produção, do sexo, da beleza... E cada indivíduo tem um deus para aquilo que está mais procurando na vida. Se alguém está procurando prazer, sorte, dinheiro, sucesso, cura, libertação, é só voltar-se para qualquer lado e verá vários deuses sendo oferecidos. E com certo temor de ofender o Deus verdadeiro, ergue-lhe “um altarzinho” no coração dizendo: “eu até respeito o Deus criador dos céus e da terra” (ou o Deus dos cristãos, ou o Deus da Bíblia), porém Ele lhe é desconhecido. Vejam a gravidade desta afirmação! São pessoas adoradoras, que contendem, defendem, argumentam, ensinam, viajam, fazem prosélitos, discípulos, tudo em nome de Deus e não O conhecem porque um dia alguém lhes apresentou, lhes mostrou um caminho e estas pessoas não se dispuseram a checar as informações antes de colocá-las no coração, como faziam os de Beréia. Vamos encontrar muita gente boa, honesta, trabalhadora, gente de bem que sonha, acredita e cada qual invoca o seu deus. Se perguntarmos-lhes como souberam desse deus, alguns responderão: “um dia (pode ser aos 7 anos, aos 10, 15, 20, 30 anos) resolvi adorar este deus”. “Gostei dele; pareceu-me o mais interessante”. Assim há milhares e milhares de ídolos no mundo recebendo adoração. Ao falarmos do verdadeiro Deus a estas pessoas, elas respondem: “eu sei quem é Deus e quando falo com a imagem (seja ele homem ou mulher, egípcia, grega, romana, africana, asiática, européia, americana...), estou falando com Ele”.
                            Às vezes nos parece que também não temos o mesmo Deus do discurso de Paulo; estamos só querendo nos enganar. Este Deus não se satisfaz só porque freqüentamos uma igreja e temos uma Bíblia. Conhecer Deus é muito mais que isto – é conviver, apreciar, relacionar, integrar, sentir, ouvir, falar com este Deus. É relacionar-se como quando Deus  criou o homem no Édem e mantinha uma convivência com ele. Apesar de toda a provisão, Deus não queria só sustentá-lo; queria relacionar-se (tal como um chefe de família não se satisfaz em somente sustentar a casa, mas quer de todas as formas relacionar-se com seus familiares). Deus quer “conhecer” e ser conhecido, tanto que na viração do dia, diariamente, lá estava Ele conversando com o homem e a mulher no Jardim do Édem. Assim Deus, tão grande e tão poderoso, demonstra seu prazer em relacionar-se com a humanidade. Imaginamos que Deus quer algo nosso – oferta, sacrifício, freqüência a igreja, aquisição de uma Bíblia, oração... Se fizermos isto já cumprimos com a nossa obrigação. Esta é uma atitude como a de um filho que supõe relacionar-se com o pai simplesmente dizendo-lhe “Bom dia!” e “Boa noite!”. Aqueles ídolos que eram adorados, eram deuses desprovidos de poder (muitos demônios se escondem nas imagens porque gostam de receber serviços, oferendas, crescimento de adeptos, lucro). O verdadeiro Deus não procura essas coisas e Paulo começa a anunciá-Lo num discurso, sempre abordando dois elementos – “Deus e o universo”, “Deus e o homem”, “Deus e a raça humana”.
                            “Deus é criador, fonte de tudo que existe” (v.24). É senhor do céu e da terra, onipotente, ilimitado no espaço (v.24). É transcendente, não carece de cousa alguma criada pelo homem (v.25), pelo contrário, é Ele quem nos dá a vida, a respiração e tudo de que precisamos. O homem sente no seu interior que é um pecador, que sua natureza está separada de Deus e inconscientemente quer fazer algo para Deus – uma doação, uma grande obra, e mesmo os que não podem fazer nada disto, procuram fazer um sacrifício, ou seja, fazer algo para impressionar Deus. Ele é o senhor de tudo e só conseguimos servi-Lo quando servimos o Seu propósito e a Sua obra redentora. Não precisa de nada que é nosso, mas quando nos pede: “Filho meu, dá-me o teu coração” (Provérbios 23:26) está simplesmente querendo devolver a nossa vida. Ele quer que tenhamos vida de fato, abundante, pois não há vida fora d’Ele. Quando nos pede um pouco do nosso tempo, da nossa sabedoria é para que estas coisas tenham sentido, pois fora d’Ele tudo isto se perde. É um caminho para o vazio; é uma corrida para o nada... Mas Paulo anuncia aos atenienses que toda vida tem origem n’Ele (v.25) e toda vida depende d’Ele (v.28). Existe luz porque Deus disse: “Haja luz!” (Gênesis 1:3); a terra é produtiva porque Deus disse; “produza” (Gn. 1:11); há vida na terra porque Deus disse: “apareça” (Gn. 1:6-25) e todas as coisas vieram à existência pela palavra de Deus. Ao anunciar “Deus e o homem”, o apóstolo vai mostrando-lhes Deus que não é o mesmo deus que o mundo está adorando; que o Deus da Bíblia não é o mesmo Deus das expressões corriqueiras: “deus te abençoe”, “deus te guarde”, “graças a deus”, “se deus quiser”... Este nos parece ser um deus para cada mente, conveniente para cada adorador.
                            Discorrendo sobre “Deus e a raça humana”, Paulo afirma “de um só (Adão) fez a raça humana...” (v.26), (os atenienses criam que esta raça surgira do solo) e continua “... para que povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar” (v.26). Assim o fez “para que os homens O buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós” (v.27). O propósito da bondade de Deus é criar o desejo no homem de buscá-Lo (leia Romanos 2:4) e tateando, muitos não conseguem encontrá-Lo, mesmo sendo Ele onipresente (está em todo lugar e ao nosso alcance), pois certamente já encontraram outro deus e estão satisfeitas ficando assim desconhecido o Deus verdadeiro. Conosco pode ocorrer algo semelhante – as coisas de Deus são tão boas que ficamos com elas (louvor, mensagens, os irmãos, o ambiente...). Simplesmente alçamos “o quintal de Deus” e não a Deus.
                             No v.30, Paulo diz que no passado Deus não levou em conta a ignorância, ou seja, enquanto as pessoas não sabiam que Deus é vivo, poderoso, senhor do universo, que fez a raça humana de um só. Ele não executou Seu justo julgamento até a presente situação porque está tomado de amor pelo ser humano e quer relacionar-se com ele de forma prazerosa. Não quer o homem fazendo coisas para Ele como obrigação (dar o dízimo, a oferta, ir ao culto, etc). Deus quer fazer parte de nossas fraquezas, limitações, tristezas, alegrias; quer estar conosco onde quer que estejamos. Colocamo-nos diante d’Ele como divinos, perfeitos na nossa humanidade quando foi Ele que sendo Deus, fez-se humano, compreendendo o homem e conhecendo todos os seus sentimentos. O Deus-homem quer que aceitemos o que ele veio fazer aqui na terra – salvar a humanidade! E que lhe entreguemos o que é devido – honra e glória, crendo exclusivamente n’Ele.
                              Ainda no v.30, o apóstolo continua seu discurso dizendo que agora (a partir do momento que estavam conhecendo o verdadeiro Deus) Deus ordenava que todos, em todo lugar, se arrependessem. Não era para que acrescentassem um novo Deus dentre os outros deuses, mas que abandonassem toda falsa religião para que encontrassem em Cristo a plena revelação. Encerrando o discurso, lhes fala que o Deus verdadeiro estabelecera um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou (Jesus) e que havia dado provas disso a todos, ressuscitando-O dentre os mortos. Quando os areopagistas ouviram sobre a ressurreição dos mortos, alguns deles zombaram. Era uma novidade que os chocava; mas alguns se juntaram a Paulo e creram.
                              Deus não quer ser presenteado, nem ser “aplacado em sua ira”, mas ser conhecido. Quer ser o nosso Deus e que sejamos seus filhos; quer ser pai de uma família na terra.


                               Obs: Texto baseado na mensagem proferida pelo Pr. Luiz Carlos Gomes e redigido por Tânia Sueli Lemos da Silva.   

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